quarta-feira, 30 de abril de 2008

Dialog Museum

E se de repente o mundo ao seu redor escurecesse e tudo passasse a ser percebido apenas pelos sons e texturas. Essa é a experiência proposta pelo museu Dialog im Dunkeln (Diálogo no Escuro), criado pelo empreendedor social Andreas Heinecke.
Durante 1 hora, 8 visitantes abandonam a luz, e com a posse de uma bengala-guia e as orientacoes orais de um instrutor (guia do museu) entram em um mundo onde a ausência da visão realça os outros sentidos.

Começamos ainda inseguros pelo primeiro ambiente. Agua corrente, sons de pássaros, piso macio que varia entre pedra e terra nos lembram uma floresta. Até mesmo a umidade pode ser percebida. Em seguida avançamos por outras salas que nos levam à feira, à sala de música onde nos deitamos no chão para sentir todas as vibracoes e também ao centro de uma cidade onde tentamos distinguir o barulho do sinal para atravessar à rua de todos os outros ruídos. E nunca percebemos que se fechássemos os olhos na Av. Paulista teríamos a sensação de não conseguir suportar a confusão. Saídos de tantas salas com sensacoes diferentes, chegamos por último ao bar escuro. Lá o garcom nos atende atrás do bar seguido por nossas vozes. Fazemos os pedidos. Peco a minha água mineral e descubro (pelo tamanho menor) que peguei a moeda de € 1 em vez da de € 2 também solta no bolso da calca.

Sentamos todos os 8 visitantes ao redor de uma mesa no bar e conversamos um pouco com nosso guia enquanto tomamos cerveja, café ou água no escuro. Nunca tinha percebido que até ouvir um menu falado exige mais atenção do que ler um menu escrito. Na conversa nosso guia - Roberto - nos conta que já morou em diversas cidades do mundo como cozinheiro, sua formação. Agora está de volta à Frankfurt, sua cidade natal, onde já trabalha há 1 ano e meio no museu. Todos os guias do museu são cegos. Prestamos atenção no que ele conta. O passeio guiado começou em inglês, mas aos poucos fomos trocando para o alemão. Na conversa percebi como é difícil tentar falar em uma língua estrangeira sem ter a ajuda da linguagem corporal para expressar o que se pensa.

Mas a revelação mais importante para mim foi notar como a ausência da visão, exige dos outros sentidos. De repente estamos mais atentos aos outros, a nós mesmos, ao nosso redor. Toda informação parece indispensável. Como falou minha colega Latika, da Índia, até mesmo o nosso diálogo parece mais consciente. Esperamos cada um terminar de falar para depois o outro começar. Educamos o sentidos. Ao sair do museu com meus colegas, lembrei muito do documentário Janela da Alma, um filme brasileiro de uma sensibilidade fantástica que mostra a visão do mundo das pessoas que não enxergam ou enxergam muito pouco e que muitas vezes percebem muito mais a realidade do que nós aparentemente dotados de visão.

Andreas, o fundador do museu, é fellow da Ashoka em Frankfurt e o Diálogo no Escuro já existe hoje em diversos países. No Brasil fica em Campinas. Uma lição prática e tanto para a nossa semana sobre empreendedorismo social.

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