domingo, 28 de outubro de 2007

Aula no gelo

Nessa quarta-feira, fizemos uma excursao para a montanha Schauinsland, que significa mais ou menos "olhe para dentro do país". Considerada a mais alta de Freiburg com 1248 metros acima do nível do mar, a montanha também foi fonte de riqueza da cidade por quase 700 anos. Lá fucionaram minas de prata e zinco que, de acordo com a Wikipedia, foram fechadas em 1954 e que, segundo meu professor, deixaram o solo da montanha com um aspecto de queijo suíco - cheio de buracos.

A intenção da visita era conhecer o trabalho da Agência de Protecao Ambiental, o trabalho de campo do Instituto de "Forest Growth" da nossa faculdade, a história do declínio das florestas alemãs nos anos 80 e os desafios do manejo florestal em função das mudanças climáticas.

As palestras foram proveitosas, com excecao da primeira, que poderia ser melhor caracterizada como aula no gelo. Havíamos sido avisados que estaria frio, mas ninguém poderia imaginar "quão" frio! Resultado: 9h da manha e 20 alunos ouvindo um professor da faculdade falar entusiasticamente dos fatores de stress das árvores. O assunto era bem interessante, mas quase ninguém conseguiu prestar atencao em nada por causa por causa das condicoes do tempo. Depois de quase 1 hora em pé numa de temperatura de zero graus , sem botas apropriadas, eu não sentia meus pés. Tudo o que conseguíamos pensar é quando vamos entrar em um local fechado, por favor! O professor nem luvas estava usando.

Quando cheguei em casa e contei a história, meus colegas de apartamento comentaram que esse descaso com as condicoes do tempo é algo típico dos alemães aqui. Faca chuva, sol ou neve, eles continuam fazendo o que é necessário no ar livre sem perturbacoes. Estão acostumados, nós alunos estrangeiros não.

Em seguida fomos para uma palestra em um local fechado. A reacao instantânea de todos foi tirar as luvas e encostar as mãos no sistema de calefacao. Almocamos na casa que a faculdade possui no meio da floresta e depois fomos ter outras palestras no ar livre. Desta vez com sol e temperatura suportável.

Apesar da primeira hora da manha ter parecido a mais longa, vivida até agora na Alemanha, gostei da excursão. Esqueci minha câmera fotográfica em casa, mas de qualquer forma o frio teria me proibido de tirar fotos. Ao lado coloquei portanto, a foto de uma colega, mostrando onde fica a Agência de Protecao Ambiental, o local onde tivemos a segunda palestra e conseguimos aquecer as mãos.

Em tempo I
Apesar de passar mais de 80% do meu tempo estudando. Ainda sobram algumas horas para provar comidas de outros países. Neste sábado à noite comemos comida indiana preparada pelo Prit, nosso colega indiano, e bebemos caipirinha preparada não por mim mas pela Leo, minha colega portuguesa, que nos convidou para o jantar na casa dela. Aqui em casa também tenho provado umas receitas diferentes como sopa de limão com ovo. Parece exótico, mas é gostoso também.

Em tempo II
Começaram minhas aulas de alemão. Vou precisar estudar bastante, pois o nível em que fui colocada, de acordo com o resultado da prova, é mais alto do que eu realmente sei. Melhor ser mais puxado do que não ter motivação para estudar ...

Em tempo III
A Leo me emprestou o livro Estorvo do Chico Buarque. Como tinha espaco na minha mala para trazer livros até agora nao tinha nada para ler na nossa língua mae. Como é bom poder ler um livro e poder prestar atencao somente na história, sem ter que pensar na língua.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Um mais olhar crítico para os números

Dessa vez nao consegui escrever no fim-de-semana. Simplesmente a estafa mental pós-prova nao me permitiu fazer qualquer atividade que exigisse raciocínio. Depois de vários dias sofrendo na frente do computador só lendo e lendo, deu tudo mais ou menos certo. Isto é, nao fui tao mal quando imaginava. Ainda nao saíram os resultados, mas acho que deu para ficar na média (assim eu espero). Obrigada pela torcida de todos.

Quanto ao fim de semana, as temperaturas chegaram a - 2 graus. Na sexta precisei sair atrás de luvas e no sábado comprar um casaco quente, que fosse curto o suficiente para poder andar de bicicleta. Funcionou. No sábado, voltei às 3h da manha de uma festa pedalando bem agalhasada. O últim bonde é às 12h30min. Existem alguns onibus noturnos, mas passam de hora em hora e o ticket semestral de estudante nao vale. Neste caso seria preciso pagar € 2 pela passagem. Por isso todo mundo se movimenta de bicicleta na madrugada de Freiburg. Inclusive eu agora, mesmo com - 2 graus de temperatura.

Depois de passar o fim-de-semana preguicosa, as aulas recomecaram nesta segunda. Sao cerca de 40 alunos. Os alunos do meu mestrado, mais os do Forest Ecology and Management (curso irmao) e mais alguns alunos de outros cursos como o master em European Forests. Está sendo bem interessante. Vamos ter aulas com vários especialistas em diferentes temas de meio ambiente e desenvolver ao mesmo tempo um olhar crítico para analisar informacoes científicas.

A base da disciplina é um livro chamado "O ambientalista cético (The skeptical environmentalist)" . Um livro para lá de polêmico lancado em 2001 por um cientista social dinamarques chamado Bjorn Lomborg. Em suas 540 páginas, o livro critica de maneira ostensiva as informacoes sobre o estado do planeta, dizendo que sao muito pessimistas ou otimistas e se propoe a fornecer o real estado do mundo. Hoje analisamos em grupo exemplos do livro tentando ver qual é o problema com certas afirmacoes, tabelas etc. Um ótimo treinamento para agucar o olhar sobre os números, falsas analogias e análises simplistas. Ao ler ontem a introducao do livro de 540 páginas, criei minha própria teoria. O sonho do Lomborg era ter sido estagiário do World Watch Intitute quando estava na faculdade. Ao ser rejeitado resolveu direcionar sua vida para combater as pesquisas desenvolvidas pelo instituto. É brincadeira, mas no fundo também fiquei com vontade de também jogar uma torta na cara do Lomborg como alguém já fez uma vez. Se tiverem interesse em conhecer o livro, o link acima traz o primeiro capítulo. Enjoy it!

sábado, 13 de outubro de 2007

Entrando no ritmo dos estudos

Acho que a maior dificuldade que eu senti nas últimas duas semanas foi me acostumar a estudar outra vez. Parece piada, mas não é. Quando se está trabalhando há alguns anos, não é tão simples conseguir concentração imediata para ler textos mais abstratos. Parece que falta um telefone tocando, um e-mail urgente para responder, uma renuiao para participar. Como disse meu colega indiano demora um tempo para a gente voltar a ser estudante outra vez.

Apresentação de trabalho
Resultado: me senti bastante cansada. Aulas todas as manhas das 9h às 13h. À tardinha encontros com o meu grupo para organizar a apresentação do nosso trabalho, que aconteceu nesta sexta-feira. No meio tempo, banho, almoço, "siesta" e ler noticias on-line do nosso país. Aos poucos vou entrando no ritmo. Ontem as apresentacoes foram bem interessantes. Seis grupos falaram sobre assuntos diferentes relacionados ao desenvolvimento sustentável. A condição era de que o tema se relacionasse ao país de um dos integrantes do grupo. No nosso caso falamos sobre transporte público em Bogotá. Os outros grupos falaram sobre construção de hidroelétricas no Canadá e Índia, poluição em Beijng e os jogos olímpicos de 2008, entre outros assuntos. Ouvindo os relatos e as diferentes percepcoes deu para ter uma idéia de quanto vou aprender nos próximos dois anos. Os professores gostaram muito das apresentacoes. As notas vão variar entre 1 e 1.3 que são as mais altas em uma escala que vai de 5 a 1.

Excurcao ao Rest Rhine
No início desta semana iniciamos nosso módulo "Perspectives through retrospectives" com uma viagem ao Alto Reno, ou seja na divisa com a Franca e pertinho da Suica. O objetivo era conhecer a história do rio e das modificacoes que ele sofreu ao longo de 200 anos. A viagem demorou cerca de 40 minutos. Tivemos como guia o senhor Volker Späth, que trabalha em um instituto que está propondo novas mudanças em algumas áreas da parte que eles chamam de "Rest Rhine" para evitar enchentes em algumas cidades. A lição é a sempre a pergunta deixada pelos nossos professores se as solucoes de hoje são os problemas de amanha? E como conviver com isso.

Vinho novo de Freiburg e comida de Gana
Para celebrar a apresentação do trabalho em grupo, a Christiana (Gana) convidou eu, Andrew, Omar e Billy (namorada do Omar) para um jantar com comida típica de Gana na casa dela. A comida era composta por carne em um molho condimentado, arroz e feijão em um mesmo prato (gosto parecido ao do feijão tropeiro) e dois acompanhamentos que lembravam respectivamente banana e batata doce. Foi uma delícia. No final a Shannon (Canadá) chegou com o namorado. Eles levaram vinho novo. Um vinho sobre o qual o meu professor de alemão havia comentado ainda no Brasil. Só existe nesta época da colheita da uva. O vinho é uma espécie de suco de uva já um pouco alcoolizado. Muito gostoso. Hoje de manha peguei minha bicicleta e fui à feira que fica na junto à Catedral comprar a minha garrafa. Muitas famílias e senhores de idade e tudo que se pode imaginar de linguíca a geléias e flores. Deixo para voces aí ao lado a foto que tirei de uma parte da feira. Ela quase dá a volta na Catedral. Espero que voces gostem e possam sentir um pouquinho do sábado ensolarado e com temperaturas de outono, que fez hoje aqui.

Abraco e até a próxima semana!
PS: torcam por mim. Minha primeira prova será nesta sexta-feira. Até lá já preciso ter recuperado completamente o ritmo dos estudos.

sábado, 6 de outubro de 2007

Neste Natal quero a minha Caloi...

Sabe aquela sensacao da primeira carteira de habilitacao? Hoje experimentei algo semelhante. Levantei às 9h e fui direto a um mercado de roupas e bicicletas usadas no pavilhao de eventos aqui de Freiburg. Fui avisada pelos mais experientes que chegando cedo teria mais chances de encontrar uma bicicleta em bom estado. Pontos decisivos para a compra: freios e luz funcionando, banco e pneus em estado razoável e, claro, marchas. Como se fosse comprar um carro usado, fiz 2 test drives dentro do próprio pavilhao antes de escolher a minha magrela.

Eu e mais três colegas - Andrew (Filipinas), Leonora (Portugal) e Shanon (Canadá) - chegamos de onibus e saímos pedalando. Depois de algumas negociacoes, fechei o preco que originalmente era € 50 por € 45. Uma bicicleta nova custa pelo menos uns € 200. Enfim voltei para casa com a sensacao de liberdade de ganhar a carteira de habilitacao e espantada ao perceber que percorri um trajeto de 15 min sem medo de ser atropelada por um onibus, ou tossindo porque um caminhao passou despejando fumaca. Mas calma, nem tudo sao apenas flores. Precisei comprar um cadeado também, pois é comum roubarem bicicletas aqui em Freiburg.

O próximo passo agora é comprar uma cesta para colocar na garupa e trazer as compras do supermercado. Quem precisa de carro quando o transporte público funciona e quando a bicicleta tem prioridade em relacao aos automóveis? Acho que já expliquei sobre isso antes, mas falo de novo. Nao importa se a bicicleta está a 5 km por hora. O carro nao pode ficar buzinando. A preferencia é da bicicleta :). Além disso há muitas ciclovias. E acima de tudo, agora me sinto mais parte da cidade nesta nova versao motorizada. E a bicicleta nao é Caloi, foi só porque lembrei do comercial.

Sobre a minha casa
Estou muito contente com o meu novo quarto. Meus colegas de apartamento foram muito receptivos e estao sempre me ajudando a melhorar o alemao. Nem se compara com o Stusie. E isso me ajuda a me sentir bem mais em casa. Além disso tem mais seis colegas do mestrado vivendo na residencia de estudantes e sempre é bacana poder encontrá-los por aí ou mesmo fazer algumas programacoes juntos. Ah, como muitos já devem ter visto, finalmente depois de 1 mes tenho internet no meu quarto. Isso ajuda a aliviar um pouco a saudade, diminuindo bastante a distancia.

A primeira semana de aulas
Recebi um presente na primeira semana de aulas. O meu professor morou 9 anos no Brasil. Em Curitiba e Belém. Ele trabalhou na agencia de desenvolvimento da Alemanha (GTZ) e trouxe muitas vivencias para a aula. Ele é um senhor ja aposentado que trabalha voluntariamente como professor na universidade. Foi muito bacana. Aprendi sobre certificacao florestal e li textos bem interessantes sobre pensamento sistemico. Aliás, ele conduziu alguns exercícios interessantes sobre este assunto aprendidos em um treinamento com Denis Meadows (para quem trabalha com sustentabilidade foi ele quem desenvolveu o Fish Banks). Na próxima sexta temos a primeira apresentacao do nosso primeiro trabalho em grupo. Depois conto como foi.

Freiburgetílico
Estou um pouco preocupada com as minhas atividades sociais por aqui. Basicamente entre entre aniversário, despedidas, pizzas, véspera de feriado (unificacao da Alemanha) bebi 5 dos últimos 7 dias. Claro que nada exagerado, mas enfim freqüente. O pessoal literalmente bebe bem por aqui. Vou comecar a cuidar. Também com vinho razoável custando € 2 ou € 2,50 fica difícil resistir.


Ah, e muito obrigada mesmo pelos comentários. Sempre leio todos com muito carinho!