E se de repente o mundo ao seu redor escurecesse e tudo passasse a ser percebido apenas pelos sons e texturas. Essa é a experiência proposta pelo museu Dialog im Dunkeln (Diálogo no Escuro), criado pelo empreendedor social Andreas Heinecke.
Durante 1 hora, 8 visitantes abandonam a luz, e com a posse de uma bengala-guia e as orientacoes orais de um instrutor (guia do museu) entram em um mundo onde a ausência da visão realça os outros sentidos.
Começamos ainda inseguros pelo primeiro ambiente. Agua corrente, sons de pássaros, piso macio que varia entre pedra e terra nos lembram uma floresta. Até mesmo a umidade pode ser percebida. Em seguida avançamos por outras salas que nos levam à feira, à sala de música onde nos deitamos no chão para sentir todas as vibracoes e também ao centro de uma cidade onde tentamos distinguir o barulho do sinal para atravessar à rua de todos os outros ruídos. E nunca percebemos que se fechássemos os olhos na Av. Paulista teríamos a sensação de não conseguir suportar a confusão. Saídos de tantas salas com sensacoes diferentes, chegamos por último ao bar escuro. Lá o garcom nos atende atrás do bar seguido por nossas vozes. Fazemos os pedidos. Peco a minha água mineral e descubro (pelo tamanho menor) que peguei a moeda de € 1 em vez da de € 2 também solta no bolso da calca.
Sentamos todos os 8 visitantes ao redor de uma mesa no bar e conversamos um pouco com nosso guia enquanto tomamos cerveja, café ou água no escuro. Nunca tinha percebido que até ouvir um menu falado exige mais atenção do que ler um menu escrito. Na conversa nosso guia - Roberto - nos conta que já morou em diversas cidades do mundo como cozinheiro, sua formação. Agora está de volta à Frankfurt, sua cidade natal, onde já trabalha há 1 ano e meio no museu. Todos os guias do museu são cegos. Prestamos atenção no que ele conta. O passeio guiado começou em inglês, mas aos poucos fomos trocando para o alemão. Na conversa percebi como é difícil tentar falar em uma língua estrangeira sem ter a ajuda da linguagem corporal para expressar o que se pensa.
Mas a revelação mais importante para mim foi notar como a ausência da visão, exige dos outros sentidos. De repente estamos mais atentos aos outros, a nós mesmos, ao nosso redor. Toda informação parece indispensável. Como falou minha colega Latika, da Índia, até mesmo o nosso diálogo parece mais consciente. Esperamos cada um terminar de falar para depois o outro começar. Educamos o sentidos. Ao sair do museu com meus colegas, lembrei muito do documentário Janela da Alma, um filme brasileiro de uma sensibilidade fantástica que mostra a visão do mundo das pessoas que não enxergam ou enxergam muito pouco e que muitas vezes percebem muito mais a realidade do que nós aparentemente dotados de visão.
Andreas, o fundador do museu, é fellow da Ashoka em Frankfurt e o Diálogo no Escuro já existe hoje em diversos países. No Brasil fica em Campinas. Uma lição prática e tanto para a nossa semana sobre empreendedorismo social.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
domingo, 27 de abril de 2008
Mais mercado com The Story of Stuff
Esqueci de publicar no comentário anterior o endereco do site The Story of Stuff: http://www.storyofstuff.com/ que traz uma historinha animada sobre como funciona nossa sociedade de consumo. Bem interessante. Se tiverem tempo, os que ainda nao conhecem, dêem uma passadinha lá quando tiverem 20 minutos disponíveis!
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Temos que mudar os mercados
Na última sexta-feira, o ex-diretor geral do WWF, Claude Martin, esteve aqui em Freiburg na conferência sobre Religiao e Meio Ambiente organizada pelos meus veteranos de curso. No coquetel que seguiu o encerramento do primeiro dia e a palestra dele, tive a chance de conversar um pouco com Martin.
Sobre o poder que a religiao pode exercer sobre possíveis avancos em relacao à sustentabilidade, ele é bastante cético. Em suas palavras, o que precisamos na verdade, é "change the markets". Embora, tenha deixado o cargo como diretor geral do WWF, ele continua muito ativo em diversas áreas. Além disso sua apresentacao de power point foi excelente com fotos de diversas épocas e todas com interpretacoes muito espirituosas.
Falamos ainda um pouco sobre o comentario do presidente Lula de que os precos dos alimentos estao mais caros, porque os pobres estao comendo mais. Ele havia citado as causas do aumento dos precos do alimentos na sua apresentacao. De tudo mesmo, ficou batendo na minha cabeca mais tarde a frase sobre que temos que mudar os mercados. Lembrei disso agora enquanto preparo uma apresentacao sobre benefícios e melhorias possíveis nos Princípios do Equador, adotados voluntariamente por bancos para gerenciar riscos sociambientais em project finance acima de U$ 10 mil. Refletindo sobre o que ele disse com o que estou estudando, precisamos também encontrar mecanismos de acelerar as mudancas nos mercados que já estao em andamento.
Sobre o poder que a religiao pode exercer sobre possíveis avancos em relacao à sustentabilidade, ele é bastante cético. Em suas palavras, o que precisamos na verdade, é "change the markets". Embora, tenha deixado o cargo como diretor geral do WWF, ele continua muito ativo em diversas áreas. Além disso sua apresentacao de power point foi excelente com fotos de diversas épocas e todas com interpretacoes muito espirituosas.
Falamos ainda um pouco sobre o comentario do presidente Lula de que os precos dos alimentos estao mais caros, porque os pobres estao comendo mais. Ele havia citado as causas do aumento dos precos do alimentos na sua apresentacao. De tudo mesmo, ficou batendo na minha cabeca mais tarde a frase sobre que temos que mudar os mercados. Lembrei disso agora enquanto preparo uma apresentacao sobre benefícios e melhorias possíveis nos Princípios do Equador, adotados voluntariamente por bancos para gerenciar riscos sociambientais em project finance acima de U$ 10 mil. Refletindo sobre o que ele disse com o que estou estudando, precisamos também encontrar mecanismos de acelerar as mudancas nos mercados que já estao em andamento.
domingo, 20 de abril de 2008
Pérolas de viagem
De volta na Alemanha! O sol (quando há) vai agora até às 20h, mas a temperatura ainda não lembra muito a primavera, apesar das árvores estarem ficando verdes outra vez e os pássaros cantarem de novo. Sobre a viagem de volta, sim, houve pérolas. Muitas. Selecionei as melhores aqui para vocês. Ônibus nos levando do check-in no Charles de Gaulle até o avião:
- Vamos como sardinhas. (Francês comentando o estado em que nos colocaram no ônibus).
- É realmente muito complicado. (Mesmo francês comentando atitude da moca da Air France ao insistir que eu deveria entrar esmagada no ônibus)
- Achei que iríamos para Frankfurt de avião e nao de ônibus. (Comentário de um alemão depois de quase 10 minutos rodando no ónibus apertadíssimo e sem ainda termos chegado no avião)
Fora essas pérolas, cheguei no último minuto na chamada do vôo para Frankfurt, pois me fizeram tirar tudo (computador de dentro da mochila, vidros com líquido em saco, cinto, pochete onde só carrego o passaporte e casaco). Fiquei tão brava porque meu cinto e a pochete não tem nada de metal, porque TANTA segurança, não iriam fazer o sensor apitar nunca. Já atrasada na conexão pelo controle da imigração, tive que praticamente "me vestir de novo" e aguentar a antipatia das funcionárias.
Enfim, se essas foram as coisas ruins, houve boas também. Vôo de POA - São Paulo tranquilo e São Paulo - Paris excelente. Vim sentada na saída de emergência (mais espaço para as pernas) ao lado de um casal alemão que tinha passado 15 dias no Brasil e estava encantado como tudo tinha corrido tão bem. Melhor ainda o atendimento das comissárias de bordo, que dá de 10 a zero na minha vinda pela Alitalia. Tinha champagne de entrada e cardápio para escolher o prato na classe econômica. Gostei da Air France intercontinental, mas já de Paris para Frankfurt é um pouco mais burocrático com seu passaporte sendo conferido duas vezes num espaço que não havia o porquê.
Cheguei finalmente depois mais de 24h apenas tendo dormido as últimas duas no trem entre Frankfurt e Freiburg. Acordei assustada achando que já estava no caminho da Basiléia e não tinha visto minha estacao passar. Foi só impressão. Tudo correu bem e cheguei em casa onde meus colegas de casa já me aguardavam. Enfim, é muito diferente voltar para cá e já saber meu caminho. Conseguir enviar um carta no correio e entender que não quero a comum e sim registrada. Meu novo quarto ainda precisa de um pouco mais de decoração. Mas está ficando confortável. E enquanto escrevo escuto os passarinhos cantarolando. Eu sei. Este post está tão desorganizado quanto o meu sono nos últimos dias. Mas enfim, cheguei bem e estou pronta para começar mais um semestre amanha! Até breve :).
- Vamos como sardinhas. (Francês comentando o estado em que nos colocaram no ônibus).
- É realmente muito complicado. (Mesmo francês comentando atitude da moca da Air France ao insistir que eu deveria entrar esmagada no ônibus)
- Achei que iríamos para Frankfurt de avião e nao de ônibus. (Comentário de um alemão depois de quase 10 minutos rodando no ónibus apertadíssimo e sem ainda termos chegado no avião)
Fora essas pérolas, cheguei no último minuto na chamada do vôo para Frankfurt, pois me fizeram tirar tudo (computador de dentro da mochila, vidros com líquido em saco, cinto, pochete onde só carrego o passaporte e casaco). Fiquei tão brava porque meu cinto e a pochete não tem nada de metal, porque TANTA segurança, não iriam fazer o sensor apitar nunca. Já atrasada na conexão pelo controle da imigração, tive que praticamente "me vestir de novo" e aguentar a antipatia das funcionárias.
Enfim, se essas foram as coisas ruins, houve boas também. Vôo de POA - São Paulo tranquilo e São Paulo - Paris excelente. Vim sentada na saída de emergência (mais espaço para as pernas) ao lado de um casal alemão que tinha passado 15 dias no Brasil e estava encantado como tudo tinha corrido tão bem. Melhor ainda o atendimento das comissárias de bordo, que dá de 10 a zero na minha vinda pela Alitalia. Tinha champagne de entrada e cardápio para escolher o prato na classe econômica. Gostei da Air France intercontinental, mas já de Paris para Frankfurt é um pouco mais burocrático com seu passaporte sendo conferido duas vezes num espaço que não havia o porquê.
Cheguei finalmente depois mais de 24h apenas tendo dormido as últimas duas no trem entre Frankfurt e Freiburg. Acordei assustada achando que já estava no caminho da Basiléia e não tinha visto minha estacao passar. Foi só impressão. Tudo correu bem e cheguei em casa onde meus colegas de casa já me aguardavam. Enfim, é muito diferente voltar para cá e já saber meu caminho. Conseguir enviar um carta no correio e entender que não quero a comum e sim registrada. Meu novo quarto ainda precisa de um pouco mais de decoração. Mas está ficando confortável. E enquanto escrevo escuto os passarinhos cantarolando. Eu sei. Este post está tão desorganizado quanto o meu sono nos últimos dias. Mas enfim, cheguei bem e estou pronta para começar mais um semestre amanha! Até breve :).
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Freiburg, cidade verde ou não?
No final de março, o jornal britânico The Guardian publicou uma matéria que no título trazia a pergunta se Freiburg era ou não era a cidade mais verde do mundo. No decorrer do texto, o jornalista não tenta responder esta pergunta. Ele quer na verdade, mostrar como vontade política e processos participativos são fundamentais para que uma cidade faça escolhas coerentes no rumo à sustentabilidade. O tom às vezes beira ao irônico ao falar das particularidades de dois bairros: Vauban (já tem um post sobre ele) e Rieselfeld (não conheço ainda).
De qualquer forma aprendi um pouco mais lendo a matéria. Quanto à pergunta inicial, Heidelberg ganhou no ano passado o título de cidade mais verde da Alemanha. Não sei se o concurso é anual ou não. Vou escrever mais sobre Freiburg e a sustentabilidade mais para a frente. Segue o link da matéria do The Guardian para quem tiver interesse: http://www.guardian.co.uk/environment/2008/mar/23/freiburg.germany.greenest.city
De qualquer forma aprendi um pouco mais lendo a matéria. Quanto à pergunta inicial, Heidelberg ganhou no ano passado o título de cidade mais verde da Alemanha. Não sei se o concurso é anual ou não. Vou escrever mais sobre Freiburg e a sustentabilidade mais para a frente. Segue o link da matéria do The Guardian para quem tiver interesse: http://www.guardian.co.uk/environment/2008/mar/23/freiburg.germany.greenest.city
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